O rádio, no ano da graça de 1960, era aquela pasmaceira, ou seja, o clichê de sempre, naquela de “boco moco”, sofrendo as influências dos primórdios da comunicação do sem fio! É aí que um jornalista, Afonso Soares, esperto pra caramba, inteligente pra ninguém botar defeito, empreendedor e amante do rádio, botou a cuca pra funcionar e decidiu mostrar através da Rádio Tupi, naquele tempo conhecida como: O Cacique do ar, um policial humorístico inovador.
A primeira audição foi apresentada no dia 02 de janeiro de 1960, uma segunda-feira. Afonso com aquela voz que Deus lhe deu, lia as notícias policiais em tópicos curtos, sucintos e pejados das gírias da polícia e dos bandidos. Nos bastidores, a princípio, Afonso teve que lutar literalmente, com a direção da rádio, haja vista o programa ser vazado em termos ousados e avançadíssimos para a época.
Só o Afonso Soares levava ao ar o Patrulha da Cidade, até que foi passar sábado e domingo na cidade de São Fidelis, entrou numa barbearia pra dar uma aparada na juba, pois sempre foi galã, deu de cara com um barbeiro super divertido, bem falante, esperto e bom de cuca! No ato, Afonso que não era português, mas era descobridor de talentos, percebeu que aquele fígaro fidelense tinha futuro no rádio e poderia levar mais molho ao Patrulha da Cidade. Foi uma idéia feliz, a marca maior de audiência da Patrulha da Cidade. Nascia ali Samuca, o apresentador mais famoso do rádio policial. Afonso redigia e apresentava juntamente com o Samuel Correa o programa que tomou conta da cidade.
Ato contínuo, Afonso decidiu colocar reportagens ao vivo, tendo para isso o trabalho do grande repórter policial Nelio Bilate que mandava na lata entrevistas de dentro das celas, no meio dos presos, criminosos que praticaram desde simples furtos até assassinatos com requintes de perversidade.
O tempo foi passando, a audiência aumentando... Num certo dia, bem longe nos primórdios da Patrulha, Afonso tava de papo num barzinho com o amigo e jornalista Nelson Batinga, o babá, quando pipocou uma briga à beira do balcão. Em riba do lance a dupla decidiu colocar o diálogo chulo na Patrulha com o rádio teatro, que à época era composto de figuras famosas no métier. O saudoso Batinga explicou: assim como tem num jornal a fotografia que fala mais do que palavras, e é a imagem contundente do ocorrido, a Patrulha vai levar das ruas ao microfone e nele com os nossos astros a você em sua casa as ocorrências policiais em pinceladas duras e vivas. Nelson Batinga produtor e redator, grande rádio ator, encarnava na Patrulha um motorista de lotação aloprado chamado “meia-trava”, quadro famoso juntamente com o “doutor autoridade”, onde babá entrava na pele de um suplicante, que através do telefone, fazia uma reclamação e a autoridade do outro lado da linha não ligava pro que estava sendo dito, ou então, tentava explicar o sexo dos anjos. Nelson Batinga, portanto, inseriu na Patrulha o rádio teatro que emocionou a audiência! Ora, se tínhamos o rádio-teatro claro, os temas musicais, as chamadas vinhetas, teriam grande influência com a finalidade de transportar o ouvinte para o clima das ocorrências. Eram e são trechos musicais de grande importância, levados a Patrulha pelo sonoplasta e técnico de som, que àquele tempo atuava na Patrulha da Cidade o talentoso italiano mais brasileiro do mundo, o magnífico Salvador Ayelo, que durante muitos anos garimpou vinhetas em discos 78 e LP’s num trabalho árduo e que precisava além de grande concentração, dedicação esmerada.
Há que se falar também no excelente professor e apresentador da Patrulha da Cidade o jornalista Juarez Getirana, homem dedicado ao ramo da saúde que até a sua morte apresentava e dirigia, de maneira dedicada e absolutamente altruística, o programa Gg.
Como era conhecido pela audiência, construiu e ensaiou radio-atores para encarnarem tipos, como o super conhecido, campeão de correspondência, o “caçador”, “Zezinho” e outros.
Gg nos deixou, todavia, nas bases assentadas por ele, corrigimos rumos e aí estamos com um jovem programa de 52 anos.
A Patrulha da Cidade assemelha-se a uma árvore frondosa e forte, plantada pelo Afonso Soares, regada e adubada por muitas mãos que a trouxeram aos nossos dias, naturalmente, inovando a sua aparência sem, contudo, mexer no seu cerne, e conservando a sua seiva. Passaram pela Patrulha vários apresentadores e escadas. Destacamos Afonso Soares, Samuel Correia, Oliveira Junior, Juarez Getirana, Coelho Lima entre outros.
Alguns tentaram, mas não conseguiram adaptar-se ao time e aquilo a que se propõe o programa, ou seja, estar junto ao povo, ajudando a galera, falando o português mais brasileiro do Brasil, dizendo a eles não aquilo que eles gostariam de ouvir, somente para agradá-los, mas sim o verbo inflamado e necessário, com os tons agressivos para que a violência não os atinja de maneira mais brutal, haja vista a Patrulha da Cidade ser para aqueles que acreditam nela, um paradigma, pois comunicamos a verdade nua e crua enfeitada pela comicidade natural para assimilação dos ouvintes. Afirmamos que a Patrulha da Cidade é uma unanimidade, pois é ouvida do polícia ao bandido. Quem duvidar que chegue numa delegacia ou num cárcere que ouvirá ao meio dia o programa.
Quando o jornalista, radialista e ator Coelho Lima, chamado pelo Gg, chegou à Patrulha em 1987, vindo de Salvador, onde na rádio sociedade da Bahia, redigia e apresentava um programa semelhante, a Patrulha A4, iniciou como radio-ator. E num papo, num pé sujo, traçando sanduíche de mortadela com refresco de limão (a grana dos dois era curta) o Juarez Getirana, nordestino simples e muito inteligente, convidou o Coelho Lima para redigir as páginas 3, 5 e 7 que são as mais cômicas.
À época a Patrulha era redigida somente pelo advogado e jornalista Jorge Pacheco, que por necessidade saiu do Rio para Vitória do Espírito Santo. Com a vaga do Pacheco veio o competente jornalista Jorge Miguel que trabalha conosco na redação e produção até hoje. Essa perfeita harmonia da redação, produção e companheirismo entre Jorge Miguel e Coelho Lima é a fórmula, sem dúvida alguma, para dar o sabor cada vez mais apreciado pelo público ouvinte da Patrulha da Cidade, campeã de audiência mês a mês, em consonância com o ibope.
A Patrulha é um programa policial humorístico e não um humorístico policial. Fazemos questão absoluta de estarmos amparados pela realidade com a verdade, impregnada pela crueza das ruas, para alertar a todos. Acreditamos que a receita mágica é essencialmente falar a linguagem do povo e não o português de Coimbra arrevesado e sim o brasileiro dos bares, das esquinas, das ruas de todo Brasil. De vez em quando, face à crueldade do fato, nos comentários feitos pelo Coelho Lima apossasse dele uma natural revolta e aí sem que ele possa se conter manda um palavrão bem colocado. Não é falta de respeito, é indignação diante dos percalços vividos pelo povo que tem na Patrulha a sua voz mais forte.
A Patrulha da Cidade é um programa caro, porque você merece o melhor, haja vista precisar do concurso de redatores, produtores, apresentadores, radio-atores, sonotécnicos, jornalistas, que garimpam a verdade junto às autoridades, às vezes se furtando de esclarecer a massa. Não existe no Brasil programa nos moldes da Patrulha da Cidade, têm cópias que passam longe da matriz da Tupi, haja vista carecerem das qualidades do Patrulha.
Há uma necessidade primordial para se produzir à Patrulha: ser verdadeira, corajosa e não dever nada a ninguém! A Patrulha é o povo, pois o povo é quem faz a Patrulha! A importância do programa é reconhecida de forma velada por aqueles que de nariz emproado dizem não escutarem a Patrulha da Cidade, alegando que é coisa da patuléia (ralé, plebe, povo de baixa condição sic). Todavia, adoram ter os seus nomes citados nela, pois é sinônimo de popularidade. Temos na gama impressionante da nossa audiência desembargadores, juizes, médicos, advogados, políticos, defensores públicos, jornalistas, policiais civis e militares e o povão em geral. A Patrulha da Cidade é uma unanimidade porque somos todos vítimas em potencial da violência.
No setor jornalístico e de apuração engajamos a figura de um dos mais experientes jornalistas do Brasil: Roberto Feres com toda a sua equipe ressaltando Ana Rodrigues, Marcos Marinho, Marcia Lima, entre outros excelentes profissionais, que no afã de trazer o melhor da noticia desafiam a violência, arriscando a própria vida.
O sucesso da Patulha está ligado à maneira de apresentação. Todos podem falar, ela é uma verdadeira democracia. O povo tem voz na Patrulha!
Atualmente na função de escada, ou seja, ajudando o comunicador Coelho Lima contamos com a eficiência do Garcia Duarte, um dos melhores apresentadores do Rio de Janeiro. Garcia cumpre, de maneira fiel, a sua função, pois ser escada é aparecer de maneira sutil, mas firme no programa.
Os temas musicais, que dão climas alegre, dramático ou triste aos acontecimentos levados ao ar pela Patrulha da Cidade, são escolhidos pela competência comprovada do sonoplasta José Maria, sempre atento à melhoria de todo programa. Como dizemos, 50 ou mais por cento do sucesso da Patrulha da Cidade devemos a inteligência dele.
Saudades do grande Samuca.
ResponderExcluirGrande gege
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